quinta-feira, agosto 06, 2009

A falecidade

Caro e-leitor (e não eleitor), bem vindo ao primeiro blog reactivo que não reage com coisa nenhuma.

Dois anos sem qualquer tipo de actividade, pois estas coisas da escrita fazem-se de comas súbitos e despertares inesperados.

A vida corre assim ao jeito de quem tenta acompanhar o tempo que parece que vai de mota, e portanto alguma coisa tem que ser deixada para trás. Não pretendo de forma alguma fazer destes 5 metros quadrados de espaço cibernético que me pertencem, um local de cultivo diário, nem tão pouco mensal, mas numa altura em que me devia preocupar com coisas mais importantes dou por mim aqui caído, qual sementinha dispersa pelo vento.

O Verão é, sem dúvida, a altura do ano em que as pessoas, na generalidade, se sentem mais alegres, mais vivaças, digamos, mais felizes. Uma época em que a dita felicidade nos invade, os amores, os one-night-stand (ou laid conforme o caso), sol e calor p'ra cabeça, festas, enfim, setecentos milhões de argumentos que poderíamos enumerar até ao infinito.

Por outro lado, nem tudo é bom, escaldões, alforrecas, congestões, indigestões e outras questões menos felizes. E é precisamente quando a menor felicidade nos atinge, ou a outros, que eu pretendo abordar e introduzir ao mundo uma expressão que eu creio que tenha tudo para crescer e quem sabe um dia figurar nesses dicionários de pretoguês ou pelo menos no Magalhães, falo pois então da falecidade.

E dir-me-á o caríssimo "Ui, mas essa já conheço eu!", sorte a sua caro e-leitor que estou cá eu para lhe dizer que de facto não conhece, poderá ter ouvido outras parecidas, mas que em verdade lhe digo nada terão a ver, se não vejamos:

Felicidade
Falsidade
Falecida

Chegamos pois então ao cerne da coisa. As pessoas falecem, uns hoje, outros amanhã, alguns várias vezes, e outros teimam em não falecer ninguém sabe bem porquê. Dado que sou ignorante, dou por mim a pensar que, num estado em que estou feliz, transmito portanto, felicidade, mas por ventura, num estado em que permaneça falecido, transmito o quê? Nesse sentido, pretendo colmatar essa falha com a introdução no léxico português (estou disponível para negociar eventuais traduções para outras línguas) da palavra falecidade.

A sua utilidade é, à primeira vista, praticamente infinita, mas é importante que a saibamos adequar às situações apropriadas, para que não ninguém caia no ridículo.

Por exemplo, há um falecimento de um qualquer conhecido, chegando ao velório será de todo pertinente comentar "Eish, que falecidade para aqui vai.". Numa outra ocasião, em que sejamos vítimas de um sinistro que nos ampute do abdómen para baixo: "Sinto uma certa falecidade que me invade". Após mandar uma chumbada no galo da vizinha: "Estavas mesmo a precisar que te desse um bocado de falecidade que me andavas a irritar todos os dias às 5 da manhã". Depois de apanharmos o cônjuge em flagrante adultério: "Ou me desapareces da vista ou descarrego a minha falecidade toda em cima de ti!"

Existem locais em que não tenho dúvidas que a expressão irá virar moda, morgues, cemitérios, hospitais, psiquiatras, estádio da luz, enfim locais onde a expressão felicidade tem todo um novo significado com a bela da falecidade.

Despeço-me, então, de si que me acompanhou nestes 3 minutos de leitura, desejando, de resto, que não faleça, pois de contrário não poderá divulgar por esse mundo fora a falecidade, e quem sabe fazer dinheiro com esta ideia fabulosa.

Assinado,

Pedro Almeida.

sábado, maio 05, 2007

El gran' discurso

Meus caros um blog escrito é o contrário de um blog por escrever. Muito trabalho, pouca vontade, mas deixo-vos aquele que foi a lapada do ano lá p'ros lados dos moliçais.

"Muito boa noite caríssimos. Aqui nos reunimos para celebrar um evento que, assim o diz a tradição, se pretende revestido de um espírito crítico, satírico, ainda que não destrutivo. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mantêm-se as pessoas, perduram as misérias.


Meus senhores e minhas senhoras, de uma forma construtiva, permitam-me que vos diga que vivemos num país de tristes. Outrora fomos grandes, descobrimos as Américas (ou parte delas), dobramos África, carregamos especiarias da Índia, conquistamos Macau e até recentemente se encontraram documentos que nos dão como sendo os primeiros chegados à Austrália. Outrora selvagens, escravizamos, recheamos os cofres com o ouro que saqueamos, estabelecemos importantes rotas económicas por via marítima e terrestre, éramos uma das nações mais poderosas à face deste planeta. Mas, de uma forma construtiva, permitam-me que vos diga que vivemos num país de tristes. Outrora ricos e influentes, esbanjamos, actualmente pobres e discretos, pedinchamos. Reza a história que o Lusitano é um povo marcado pelos Fados para grande feitos, no entanto, a capacidade natural de gestão do português coloca-o impreterivelmente em desvantagem.


Cedo se definiram as fronteiras. A sociedade portuguesa, ainda que devastada numa primeira instância pela peste negra, (re)ergueu-se. Construímos palácios, mosteiros, desperdiçamos em banquetes, resistimos a franceses, aliamo-nos aos ingleses (na mais antiga e infeliz aliança de sempre), destronamos a monarquia para dar lugar a uma república, importamos macacos para dar conta do epidémico número de bananas, sofremos na pele de um ditador mas passamos ao lado de duas grandes guerras, fomos de encontro à restante Europa que nos parecia querer fugir, elogiaram-nos pela organização de eventos culturais e desportivos. Tivemos governantes muito maus, outros maus, alguns menos maus e um ou dois que quase que poderíamos dizer que não eram tão maus como isso mas por uma questão de coerência digamos que simplesmente não eram bons.

Outrora erigimos em montes, castelos que nos protegiam dos invasores, no panorama actual, aliado às políticas de reinserção social, protegemo-nos enclausurando os que se dizem excluídos em bairros. Condenamos e recorremos do preconceito, fomos e somos vítimas da nossa própria ignorância. Claro que temos determinadas vantagens, habitações mais baratas, disponibilidade de todo um rol de estupefacientes e a preços mais acessíveis, tecnologia de ponta que inclusive já pode ter sido nossa algures no passado.


Mas Portugal é um país muito mais seguro do que o era há 20 ou 30 anos atrás, se não vejamos que é muito mais seguro o facto de hoje, ao sairmos de casa sermos assaltados do que o era naquele tempo.

Outrora o ensino era gratuito e acessível, pronto estava a brincar, passemos à frente. Se vos perguntasse muito directamente “Qual o estado do ensino em Portugal?”, que me diríeis vós? Uns provavelmente diriam “portantes, nisto há um professor, depois metem crianças, umas cenas na mão com letras e avaliam-se coisas.” Por muito que não possa discordar, permitam-me que vos transmita a minha humilde opinião, o ensino hoje em dia, passa por deseducar as crianças em relação àquilo que aprendem com a televisão e com os pais. Perdão, com os pais não uma vez que a juventude só aprende com televisão, já que não tem relação com os pais. Hoje em dia um pai se quiser ver o filho, tem que ir ao hi5, se quiser falar com ele tem que deixar o endereço do correio electrónico num comentário no perfil ou numa das fotos.


Outrora o rigor de quem ensinava levava a que por vezes uma reguada bastasse para impor um método ou somente a ordem, nos dias de hoje uma reguada não basta, é preciso bater com mais intensidade no professor se não ele não se cala.

Mas não fosse a escola como poderiam as jovens raparigas manter o estilo característico da faixa otária, perdão, etária, vulgo “fashion”? Como saberiam elas se é “fixe” combinar o casaco prateado, com a fita dourada, os sapatos verdes e as calças amarelas? Como poderiam comprar todos aqueles acessórios inúteis a que ninguém dá valor mas que as tornam especiais face às adversárias, vulgo amigas para sempre, se não tivessem aulas a que faltar. Como iriam elas encher os diários fotográficos cibernautas, vulgo fotologs, se não tivessem visitas de estudo onde se pudessem exibir.

Minhas senhoras e meus senhores, talvez vivamos num país de tristes, mas é um país onde é bom ir à escola.

Todos os dias vemos alunos do secundário e/ou primário pelo campus da universidade, é curioso e triste constatar que para maioria aquele será o único contacto com o ensino superior. Se inquiríssemos estes jovens para que nos entoassem um pouco do hino, o mais provável era que nos saísse qualquer coisa do género: “Heróis do mal, nobre povo, super guerreiro imortal, és o nosso herói Songoku.”

A um nível superior, o ensino não me preocupa. À parte das ementas andarem a ser alteradas, posso muito bem andar a comer sandes até acabar o curso que no final, meto-me num regional, apanho o metro e vou buscar o canudo à Universidade Independente.

Mas este pequeno país não é só problemas com minorias e com o ensino, felizmente existe todo um conjunto de situações que nos mantém entretidos e com as quais contribuímos de forma positiva para a imagem negativa que eventualmente o restante globo tenha acerca de nós.

De resto somos os primeiros a subvalorizar os talentos que emergem, por exemplo, no panorama musical. Ao invés de investirmos na cena nacional e apoiarmos as revelações que surgem a todo o momento, preferimos enterrá-los, espezinhá-los, cortar-lhes as pernas quando ainda estão a aprender a andar e desse modo, optamos por descarregar os álbuns da “Internet”, retirando o pão da mesa destes artistas. E pergunto eu, como queremos dar oportunidade a mestres criativos que desbotam qual ervas daninhas, como seja o Mickael Carreira, se em vez de lhe darmos um euro por cada vez que lhe compramos um cd, formos roubar essa mesma obra prima, roubando assim também um pouco da alma do pobre Mickael.

Somos bons, temos bons valores, valores confirmados, pessoas que ganham prémios, prémios importantes, actores com carisma, actores que desempenham papeis e são reconhecidos, actores como o Cláudio Ramos que nos fazem acreditar que hoje se ganha um globo de ouro, amanha um Óscar.

E para enaltecer o espírito luso, a RTP promoveu um concurso que visava eleger o melhor português de sempre, entre candidatos mais ou menos dignos, singraram na final 10 personagens marcantes. O povo votou e ficou o registo do bom sentido de humor de uma nação que proclamou como herói o indivíduo que os oprimiu durante 40 anos.

Meus senhores e minhas senhoras, de uma forma construtiva, tentei dizer-vos que vivemos num país de tristes. E apesar da extensão do meu discurso talvez não tenha focado metade das dificuldades que nos atormentam, mas não fossemos nós portugueses com a nossa inexcedível aptidão para o “desenrascanço” e capazes de contornar qualquer obstáculo, nem que para isso seja necessário montar a barraca e puxar do braseiro e das sardinhas. E porque é necessário preservar esses bigodes e essas panças, manter os copos cheios e as nódoas na camisa que eu digo, somos um país de tristes, mas são os nossos tristes e é com eles que vamos andar para a frente.


FORÇA PORTUGAL!"


sábado, julho 22, 2006

O MaioR Mês de Todos (1ª Parte)

O MaioR mês de todos. (1ª parte)

Dando uma olhadela rápida pela agenda, fácil era verificar que a mesma escasseava em espaços brancos por onde escrever qualquer nova tarefa a executar. Ainda a lidar com a ressaca proveniente do desgastante sarau da noite anterior, dava-se início ao verdadeiro enterro, edição 2006.

Um cartaz muito igual aos seus antecessores ou até mesmo aos seus homólogos espalhados pelas academias em geral pelo país fora. Dos cabeças de cartaz figuravam nomes como: Gabriel o Pensador, Pedro Abrunhosa, Quim Barreiros (e surpresas?) e a melhor banda nacional também conhecida por Moonspell.

Novamente o sábado brindaria a entrada na semana do Enterro, um excelente dia de sol patrocinava o boletim meteorológico e uma vontade de dar abertura à época balnear. O meio de deslocação teria que ser o transporte público, cedo se partiu e cedo se chegou à praia da Barra.

Presença habitual nas praias nortenhas, a Nortada fazia-se sentir embalando cabelos no quais se envolvia e por onde desenvolvia uma relação de proximidade capaz de provocar uma irritabilidade dérmica fruto dos arrepios que despontava.

Dos acessórios levados não faltaram as indispensáveis toalhas onde os corpos haveriam de repousar morbidamente, captando as cancerígenas radiações na ânsia que estas despontassem o melanoma que timidamente se resguarda nas células correspondentes.

Em local arenoso, o que também não poderia faltar era o esférico, o baralho de cartas e claro, o protector solar. Bom, havia de tudo à excepção deste último, as consequências reflectiram-se numa pigmentação avermelhada, bem aprazível ao olhar caso se tratasse de um espécimen leguminoso, caso do tomate ou do pimento.

Quanto à noite, figurava um nome maior no cartaz: Gabriel, o Pensador. À primeira, a ideia que talvez surja é que sendo um fim-de-semana, e representando o artista a vertente “hip-hop”, a chungaria dominaria todo o recinto académico. Mas antes de tudo isso, porque não começar pelo princípio…

Não tenho ideia de como terá começado a noite, lá vai o seu tempo, de todo o modo o percurso era o habitual, as rotundas estavam presentes e a pedir para serem contornadas, o recinto contudo era diferente dos anteriores. Se o pavilhão principal continuava a ser a grande atracção, no seu exterior algumas alteração foram incutidas e muito bem. Para além dos cubículos “sanitários” a Red Bull investira numa tenda em que para além da bebida à qual dá nome, um som electrónico atribuía um ambiente alternativo ao palco onde actuavam as bandas.

Não sendo a única inovação outras se fizeram no campo do entretenimento insuflável, desde matraquilhos humanos a vulcões, a touros mecânicos e amostras de gladiadores com cotonetes gigantes. No pavilhão pouco a destacar a não ser uma melhor organização das barraquinhas responsáveis pela manutenção dos níveis de boa disposição da classe estudantil.

De forma a resumir, ao contrário da anterior narração, apenas me cingirei às performances dos artistas e não às noites no seu todo já que dada a data que nos distancia do evento os pormenores passam um bocado ao lado.

Como referido a primeira noite era liderada por aquele que seria o maior artista internacional a listar no cartaz de toda a semana, antes actuaria o Bob Marley angolano Prince Wadada, no fundo era o Mantorras do reggae lá da zona. Marca a tradição que um concerto deste género seja caracterizado pelo ambiente descontraído, pausado e que o ritmo se centre na flexão do joelho de não mais que 7 ou 8 graus de maneira a que se evitem lesões a nível do reumático. Gabriel, o Pensador (assim se auto-intitula) deu entrada em palco em grande estilo com uma música muito conhecida, não para mim porque nem sequer me lembro qual foi, mas tenho a certeza que para muita gente que lá estava presente. O grande destaque da actuação vai naturalmente para o momento em que o senhor decide insultar a mãe de todos os presentes repetidamente durante uns 4 ou 5 minutos, o público não satisfeito decidiu colaborar com a onda insultuosa e retribuiu o favor ao senhor. Tirando isto só talvez a altura em que o artista fez questão de exibir o belo exemplar feminino com que se fazia acompanhar e com o qual mantém uma relação marital.

O final da noite ficou marcado pela presença de ursos a circular em motociclos exibindo tangas de leopardo.

O Domingo enquanto sagrado dia que é haveria de ser respeitado no que ao não fazer nenhum diz respeito. Se o trabalho exige arte e engenho muito mais o exige o oposto. Mestre em fazer dos momentos que poderiam ser passado em ociosas actividades em autênticos vazios activos, por uma vez mais dediquei o tempo disponível a absolutamente nada que de interessante tenha seja para quem for.

Nem só de nada vive o homem, por vezes é necessário o indivíduo levantar-se da cama mesmo que sejam 10 horas da noite e fazer valer os investimentos em que se envolve. Dos quarenta euros dispendidos não se iriam desperdiçar meia dúzia deles e faltar a um evento que por pouco apelativo que fosse, não deixava de constar no programa festivo.

Pedro Abrunhosa era o grande destaque musical, entretanto alguém estaria em palco a fazer qualquer coisa, não faço ideia quem, o quê e muito menos porquê, até porque a minha presença fez-se sentir no exterior junto à acolhedora tenda Red Bull. Um som que apesar de não fazer parte do leque das minhas preferências encaixava perfeitamente no espírito da noite, o ambiente era agradável e seguia a bom ritmo até ser interrompido por um francamente mal dissimulado problema técnico. A verdade é que as pessoas acercavam-se cada vez mais daquele espaço alternativo e deixavam Abrunhosa ao abandono e a declamar poemas para meia dúzia de parolos. Felizmente alguém se lembrou de cortar o som do espaço electrónico forçando a convergência do pessoal para junto do palco principal.

A primeira visão não foi muito agradável, calças de fato de treino brancas eram dispensáveis, justas mais ainda, uma t-shirt azul sem mangas também justa como não podia deixar de ser e um casaco à motard para completar o conjunto. Sim, os óculos “la mosca” style também lá estavam como de resto nunca deixaram de estar, sendo uma das imagens de marca do artista.

O nível musical tende a agradar mais ao público feminino que propriamente ao masculino, não que isso se fizesse notar nos presentes já que se encontravam em número muito equilibrado o que me parece compreensível na medida em que elas iam ver o senhor Abrunhosa e eles iam à procura das que iam ver o senhor Abrunhosa.

Dissertemos sobre o indivíduo que busca fêmea em concertos de música de cantores folclóricos. A princípio pode parecer só mais um freguês de camisa listada, primeiro botão (em caso extremo de tentativa de sedução dois) aberto, enverga a cruz ao peito demonstrando a fé que tem no engate, usa calça de ganga passada a ferro pela mãe já que as mãos tem-nas ocupadas a passar o gel pela mona. As características comportamentais essenciais prendem-se com o involuntário levantar de golas, o pedir garrafas de água com gás aromatizadas e invariavelmente repetir a expressão “posso-te conhecer?” aquando do primeiro contacto com o sexo oposto.

Depois deste pequeno momento BBC, permitam que me situe naquele espaço, que é como quem diz, estava totalmente perdido. Confesso que já vi o homem na televisão umas quantas vezes, até tive a oportunidade de o ver ao vivo outrora, no entanto, chegava a ser ridículo o facto de todo o mundo, à excepção de eu próprio, conhecer as letras das canções todas. Agora que reparo nisso retiro uma conclusão um tanto desagradável, se não estava lá pela música talvez seja apenas mais um dos… pelo menos não uso calças de ganga.

A noite é provável que tenha terminado da melhor maneira, visto que eu não faço qualquer ideia do final da mesma mas para todos os efeitos ainda aqui estou logo é sinal que nada de mais se passou. Esta é apenas a primeira parte do extenso material que está para ser escrito relativamente ao mês de Maio, espera-se ainda o resto do enterro em Aveiro mais idas a Coimbra, Porto e Braga, terminando no Super Bock Super Bock, espero durar o tempo suficiente para escrever tudo isto.

Um bem haja.

sábado, maio 13, 2006

Dissertações frustradas.


Em tempos de lides académicas animadas, surgem tarefas que aprazem mais a gregos que a troianos por certo, todavia eu pertenço mais à secção reservada aos imigrantes de leste.

Da tradição reza que a semana do enterro é inaugurada com um sarau cultural destinado a apresentações, danças, encenações, cantorias ou somente discursos da treta. Redireccionados para este último, a CPQNTMQFSIDPA (Comissão de Pessoal Que Não Tem Mais Que Fazer Senão Inventar Desculpas Para Apanhar Bebedeiras) de pronto requereu marcação de um encontro que mais não servisse que para elaborar um documento de cariz satírico de forma a inteirar e quiçá até mesmo conquistar a competição integrada na taça UA.

O concílio estudantil fora uma realidade. Não mais que uma dúzia de elementos se reuniram ao longo de uma fileira de mesas dispostas horizontalmente num local que ainda que recatado não deixava de ser público. Copos, canecas, garrafas, jarrões, mais do que meras decorações estavam lá, não só para satisfazer o gosto dos presentes, como também para impulsionar e suportar todo o projecto. Nem só de líquidos se fez o convívio, por entre vegetais, cereais e outros mais, de preparados com nacionalidade gaulesa de tamanho reduzido predominavam as escolhas dos esfomeados.

Optou-se por, ao invés de produzir um discurso de tom formal, produzir um de tom irónico e lúdico, nunca esquecendo a vertente critica. Para dar cara a essa mesma história um herói foi criado: Sem Pescoço. Da história de Sem Pescoço vincaria o facto de ser apenas mais um pobre desgraçado, um pobre desgraçado vítima da sociedade e dos seus actos.

As palavras com dificuldade iam fluindo, enquanto se enchiam estômagos e esvaziavam os recipientes que acolhiam as bebidas, ideias iam sendo lançadas na expectativa de que algo se aproveitasse para a tal escritura. Entre aventuras e desventuras o pobre catraio alternou entre conversas “gregóricas”, esperas desesperantes, negócios de teor carnal o que só poderia terminar mal, convergindo para o insucesso profissional e pessoal do personagem.

Cerca de dois pares de horas e 4 milhões de neurónios depois, finalmente dávamos por concluída a nossa tarefa. Relidas que estavam as páginas, sorrisos se estamparam nas faces dos seus autores. Toda uma aura positiva circundava aquelas palavras, toda uma confiança parecia colocar antecipadamente aquela composição por entre as vencedoras, toda uma certeza garantia que pelo menos um bom trabalho fora realizado e a não eleição carregaria todo um sentimento de injustiça.

Dias antes do anunciado sarau, o resultado fora afixado, de acordo com as profecias exaltava por entre os ilustres o nome de Ambiente, o seu orador: Marco Paulo (assim o insistem mesmo não me identificando como tal). Um misto de ansiedade e nervosismo me invadira. Por um lado o conforto de pelo menos figurarmos por entre os 5 melhores, por outro a responsabilidade de elevar ao mais alto nível o nome do curso.

Pouco mais que 24 horas seria o tempo de preparação, pouco mais que uma página o que haveria a dizer, pouco mais que 5 minutos todo o espectáculo. Limitados reconheço que são os meus dotes dedicados à representação, limitada também é a minha experiência nesse campo, no entanto, decidi apoiar-me no indivíduo a quem devo mais respeito: eu próprio. De fronte para o espelho proferi, em voz alta e pela primeira vez, as marcantes palavras. De um jeito teatralmente forçado, dei por mim como que a recitar Shakespeare. A colocação vocal assemelhava-se à de um espanhol a pedir bacalhau com natas num tasco à beira mar, a respiração defeituosa dava ideia de que estaria a sofrer um ataque de asma.

Cedo desisti, pensei por breves momentos em somente subir ao palco e ler da forma mais instintiva possível, no entanto, recordei que não seria em nome pessoal que discursaria perante a plateia.

Não tardaram a passar as escassas horas que me separavam não do evento em si mas do dia do próprio. Novamente solitário, coloco um som de fundo que me conferisse um ritmo apropriado à leitura e recomecei o treino. Invariavelmente vacilava por entre o timbre fanhoso e o engasgo seguido de um ridículo e seco “gargalho”.

Cresce a ansiedade, cresce o nervosismo e juntamente cresce também o desespero. O jantar estava marcado por volta das 19 horas, cerca de 90 minutos antes do início das cerimónias. Apressadamente visto o traje oficial representativo da academia, engraxo os sapatos, ajeito a gravata e coloco-me em marcha qual pinguim em frenético deslize por gelada montanha.

A tropa ainda preparava o tacho e como tal o vazio que se instalara propagou-se, conduzindo a uma elevada produção de adrenalina, responsável directo pela perda de apetite e aumento de secura considerável. Impaciente, irrequieto e por fim algo desapontado pela amostra de local com que me havia confrontado. Esperando iluminação especialmente montada para o efeito, bancadas coloridas de forma a alegrar um pouco mais a área, um púlpito onde poderia colocar a cabulazinha e quiçá uma garrafinha de água, enfim um cenário oposto com o que me deparei.

Das desocupadas e cinzentas bancadas, ao negro e tenso ambiente, apenas simples microfones se revelavam úteis naquele tenebroso palco, dos importantes da cidade ou até somente da universidade não se lhes ouviam simples murmúrios, ninguém estava lá. Ninguém, se quisermos adoptar uma postura altiva, já que vários grupos culturais marcavam presença, bem como os meus homólogos oradores e outros que me acompanhavam no sentido de me incentivar.

O alinhamento estava definido, a minha actuação situar-se-ia algures pela bissectriz do programa geral. Com o tempo de sobra aproveitei para amplificar o nervosismo a um nível quase extremo que, não me levando em tempo algum a ponderar desistências, serviu para humedecer a roupa interior com algumas pinguinhas.

Analisando que ia os discursos dos meus “concorrentes”, verifiquei que não era o único a não se sentir muito confortável com a situação. Avançava em direcção à lateral do imponente albergue consciente de que tudo o resto de nada valeria, apenas eu, uma folha de papel impressa e um microfone. Erigida sobre a escadaria, ostentando um sorriso, uma afável jovem também de igual modo denotava um brilho nos olhos revelador de algum receio.

De modo a quebrar um pouco o gelo partilhamos experiências no campo da escrita dos discursos, o tempo rolou de forma saudável até sermos interrompidos pelo momento de troca de artista. Desportivamente fluíram desejos de boa sorte de parte a parte e restou apenas a asfixiante espera.

A cançoneta entoada pela colega anunciava um fim próximo da sua performance, acerquei-me da abertura do acesso principal enquanto a mesma se despedia dando lugar aos apresentadores que me introduziriam sob o apelido de “Marco Paulo”. Entrei, fui brindado com o incentivo por parte destes, percorri o palanque, ajeitei o gabão devidamente acomodado no ombro esquerdo, confrontei a plateia, e em jeito de saudação elevei o braço onde acarretava as sábias palavras e contemplando o desmedido infinito vociferei em alta voz: “Caros amigos, não estou aqui para vos ler um discurso. Estou aqui para vos ler uma história”.

Co’a breca. Primeira frase e senti que me afundava rapidamente em areias pantanosas sem ter meio de alcançar lianas que me valessem salvação. Efectivamente não era o que pretendia ter dito mas havia que continuar. A estratégia de início definida teria que ser seguida, aquele mísero papel para não mais teria que servir que para me conduzir em momentos de aflição.

Os nervos vibravam a frequências detectáveis pelo comum radar submarino, e se não julgara que o começo fora bom, em pouco mais que 30 segundos surgiria a primeira “branca”. Um total apagão acompanhado por um tremido sorriso, poderiam ter sido o triste final daquela estranha experiência. Dominado pelo instinto, pois havia já muito que a razão me abandonara, alcanço o documento, procuro situar-me o mais rápido possível de modo a que possa retomar a caminhada e solto três gemidos que se confundem com pequenas gargalhadas.

Estava de volta, repescado das profundas areias alteio a cabeça e com uma falsa convicção tento disfarçar o que se havia passado. Imbuído do espírito artístico fui levado algures por entre sotaques beirões, improvisos relativamente bem sucedidos e no final uma agradável ovação por parte da audiência.

Abandonei aquele local com a sensação de que toneladas haviam sido retiradas de cima de mim, a ansiedade deu lugar a uma espécie de euforia que permaneceu por largas horas. As primeiras impressões foram muito positivas, em geral parecia que o desempenho não fora tão mau como o que me tinha parecido no momento.

De qualquer das formas restava apenas aguardar pelo resultado que sairia dias depois. Bem se esperou, o mesmo fui anunciado e o vencedor acabou por ser

terça-feira, abril 25, 2006

Flatulência refrescante

Um bem-haja ao caro leitor, após uma ligeira pausa nas remodelações do sector lateral, decidi, porque não, debitar um pouco mais de conteúdo do qual estou eu ciente, certamente fará alguém feliz.

Aproxima-se por uma vez mais um período marcado pela tradição académica. Em jeito de promessa e continuação, o diário da queima será novamente uma realidade, as parcerias foram refeitas e havendo vontade e energia, novos capítulos surgirão.

Em tempo de introspecções, prospecções ou simples reacções, antecipemos ou limitemo-nos a recordar acontecimentos. Faz não muito tempo todos soubemos, por imposição ou por tabela, dessa grande tragédia que foi a marca atingida pelo barril de crude nos 74 dólares com repercussão directa nas nossas gasolineiras, mas não é isso que me trás por cá. O choque e a devastação abateu-se sobre a erudita sociedade portuguesa, quando num mesmo dia em que 5 pessoas (entre as quais um bombeiro por exemplo) perdem a vida e dois eucaliptos são brutalmente atingidos, o grande destaque informativo vai no sentido de alguém que era importante porque aparecia na televisão.

Desde cedo que em mim se manifestaram problemas a nível respiratório, sem possibilidade de tratamentos dispendiosos, em noites de aflição lá estava ele, sob a forma de pequenas foices que emanavam miraculosos gases perfumados quando em contacto com água próxima do ponto de ebulição. Por certo nunca tomou qualquer papel de destaque em peças teatrais enquanto estudava, muito provavelmente porque seria estúpido ensinar um eucalipto a ler, ou então porque somente o eucalipto sempre foi ostracizado pela sociedade em geral.

O eucalipto é um animal que sobrevive em comunidades relativamente vastas, sendo dotado de uma grande capacidade de sucção, a sua capacidade de adaptação ao continente africano fora infrutífera, como tal, partiu à conquista, atravessou ali o Mediterrâneo e aterrou em Portugal à cerca de, eu diria 3 ou 4 semanas, mas os dados científicos certamente provarão que devem ser mais meia dúzia de dias.

Historicamente o eucalipto tem se destacado especialmente pela negativa. Se em Portugal lhe é apontado, entre outros, a desertificação alentejana, a falta de chuvas o ano passado e o elevado défice, por outro lado foi responsabilizado pelo lançamento de bombas atómicas em Hiroshima e Nagazaki e pelo dilúvio do qual apenas se salvou Moisés e um rebanho de cabras. Nem tudo é mau, de igual modo o eucalipto levou o Homem à lua, trouxe José Mourinho para o Porto e pintou o Michael Jackson de branco.

Demências à parte, até porque eu faço questão de não ler uma segunda vez, conclui-se pois então que isto não faz qualquer sentido, da mesma forma não o fez o mediatismo aplicado ao caso primeiro. O ferir de susceptibilidades, por muito que me dê ou não gozo, integra-se no sentido de que se deixem hipocrisias de lado. A realidade é a seguinte, as pessoas não se interessam por ninguém hoje em dia, e como tal, o porquê do choradio num caso em que apenas mantêm contacto por via electrónica?

Tenho bastante mais ligação ao principal lesado, não só pelo que referi, como pela vertente profissional a que estou conectado, daí que nada, a não ser a relação intra-especifica, me faz ter qualquer tipo de sentimento por um indivíduo que manifestou pura irresponsabilidade. Posso eventualmente desiludir alguém, felizmente não me importo com isso, daí que agradeço que não percam a próxima semana, pois a animação vai ser grande.


As remodelações vão prosseguir, a fluência criativa vai naturalmente a continuar a depender de correntes inspiradoras, daí que sem mais assunto de momento me despeço com aquele abraço,

sábado, abril 15, 2006

Vá para fora, mas vá agasalhado.

O título apesar de intrigante, é perfeitamente justificável, sendo eu um indivíduo com tempo livre que chegue para eventualmente iniciar uma colecção de caricas de garrafas de sumo de 1976 dou por mim sem qualquer gosto particular por caricas o que daí advém que eu vá ressuscitar um capítulo dos mais interessantes dos que por ventura haja por aí à espera de ser “capitulado”.

Longe vai o tempo em que a salga do bacalhau se fazia junto à fogueira e longo também é o tempo que demora a ir até Fátima a pé, mas o que importa é que reunidos esforços conjuntos de esforço, dedicação e glória, exaltamos a partir deste momento a saudosa ida ao enterro da gata (paz à sua alma) a Braga.

Uma quarta-feira como outra qualquer, mais um dia enublado, mas um sentimento de querer percorrer esse mundo fora, ver lugares e gentes novas e que melhor que coadunar tudo isso com o espirito académico, daí que impossibilitado de sair do país ( não que tivesse qualquer ordem do tribunal ) rumei rumo a um norte mais anortado cá no nosso cantinho.

Possuído pelo desejo, porém sem viagem programada, um telefonema bastou para tratar de todo e qualquer problema referente à mesma. Trajado a rigor prossigo confiante em direcção ao ponto de encontro, ligeiramente atrasado por certo, no entanto com a certeza de que tudo iria correr bem, senão quando uma simples pergunta despoletou todo um rol de contratempos a roçar o desagradável.

A natureza é cruel e como tal verificam-se situações que ao olhar indiscriminado do mais comum mortal podem parecer injustas, neste caso particular não tem nada a ver, de qualquer das formas determinados factores que por norma nos são extremamente úteis, facilmente se revelam os maiores inimigos, poderia estar a falar de prostitutas filipinas mas para o caso cinjo-me exclusivamente ao tempo.

Ora se meteorologicamente era aparentemente favorável, já fisicamente não poderíamos dizer o mesmo, que é como quem diz, se no quarto de hora próximo não estivéssemos metidos no comboio, bem que podíamos dizer adeus à querida gata e lá teríamos que esperar que enterrassem outro espécimen, pois Bracara Augusta decididamente não viria ter connosco.

Natural curioso que sou decidi questionar-me se de facto haveria razão para desesperarmos e em brusco gesto alcanço o bolso das calças e constato a ausência do meu parceiro móvel e anti-choque. Avançamos então a passo acelerado, sem hipótese de retorno e de rever colegas, amigos, parentes ou mesmo o aparelho telefónico. Ao tempo que se rompia o virgem couro da sola do sapato, em uníssono e em tom de protesto também a epiderme das extremidades inferiores se ressentiam, infligindo inadvertida dor no correspondente proprietário, eu próprio.

Capas por ventura, todavia nenhum dos envolvidos guarnecia de vassouras levitantes, cicatrizes na testa ou até mesmo simples óculos que disfarçassem eventual problemática óptica, como tal imaginários fantasiados por autor alheio de pouco serviam, ficamo-nos então pelo atleta luso-nigeriano saído de um qualquer local de construção civil, como modelo de inspiração ao sacrifício a que nos sujeitamos.

Velozes, determinados e mais importante que tudo a tempo de apanharmos o trem da felicidade. Passado o pior, era necessário recuperar o fôlego e como tal recostamo-nos junto à saída do comboio visto estar repleto. Sapatos, gravatas, casacos ou coletes, tudo incomodava e tive a oportunidade de verificar as primeiras mazelas que justificadamente provocavam um ardor incomodativo.

O primeiro ponto de chegada fora atingido e restavam 20 minutos até segunda largada. Um kit de primeiros socorros teria sido útil, mas na ausência de tal equipamento, simples lenços brancos, que por norma seriam revestidos por viral gosma “gripica”, teriam que funcionar quais pensos rápidos. Aplicados que estavam os curativos, prosseguimos até ao nosso real destino.

E porque sentado a pressão que se exerce sobre os pés não é tanta como isso, cedo comprovei que de facto os 20 minutos que perdera a tentar confortar os pés forrando-os com celulose vegetal branca, haviam sido inúteis, pois a dor contra-atacara mal a passada fora retomada. E se caminhando não era bonito, novamente a marcha adquirira ritmo acelerado em direcção ao tão bem fadado desfile.

Lá estavam eles, camiões decorados com enfeites diversamente coloridos, satíricas mensagens endereçadas a superiores, bonecos modelados de forma a transmitir um qualquer critico significado, nós porém, só lá estávamos pela cerveja e pelas meninas.

Um primeiro olhar, uma primeira impressão: estávamos no local certo. Milhares de pessoas preenchiam uma avenida de aspecto românico, romântico, rústico mas acolhedor. Era tempo pois então de prosseguir com o objectivo inicial, arranjar companhia. Identificados que estávamos com tão distintos uniformes, facilmente nos sentimos integrados ao visualizar uma dessas barraquinhas ambulantes que oferecem diversos tipos de serviços. O preço de início não agradou, mas provisória que era a situação e tendo em conta que a sede apertava, fomos levados pelo entusiasmo.

Começara pois então e como não estávamos lá para avaliar a quantidade gasosa presente no malte, percorremos o desfile em busca de faces familiares. Como quem tem boca vai a Carcavelos, íamos perguntando aos transeuntes por quem de facto procurávamos e em não mais que 10 minutos estava alcançado o veículo pertencente a “Engenharia Biomédica”. Tratamos imediatamente de aliviar alguma carga que não servia para mais que meros efeitos decorativos, em troca ofertaram-nos mais algum combustível, justo que chegue.

Mais à-vontade que estávamos, começamos a lavrar terreno no sentido de angariarmos a simpatia entre os conterrâneos ou outros simples forasteiros como nós. Música, um elo que une nações um pouco por todo o mundo, diferente não o era naquele recinto e vai daí após dois ou três passinhos de dança, surgiriam algumas interacções com a população local. Curiosas donas de casa abordar-me-iam com a questão da origem de muy nobre traje ao que eu amavelmente retorquiria naturalidade aveirense, vertente ambientalista, posto isto, confrontado sou com a inocência das amáveis e ingénuas criaturas pois inquiriram-me se iria retratar o meio detrítico bracarense. Imbuído de natural boa disposição gargalhei por breves momentos e esclareci, como de resto também o posso fazer neste momento, que não, o curso de facto não tem por objectivo primórdio arremessar os que o concluem para a SUMA, mas antes para serviços prestados em laboratórios ou secretárias.

De encontros e desencontros se fazem bons e maus momentos, e se por um lado estava num local totalmente desconhecido, nem por isso deixei de travar conhecimentos com rapaziada da terra do ovo mole. Entre chalaças e graçolas, o resultado naturalmente convergiu para que me perdesse dos meus companheiros. Ajuntando a isto o facto de não ter forma de os contactar, poder-se-ia eventualmente dizer que estaria em maus lençóis. Estaria mas não estive, felizmente que o orgulho tem aspectos positivos, e a prova disso mesmo eram as jaquetas exibidas que transmitiam em dourado as palavras mágicas referentes ao curso da amostra de engenheiro que eu procurava.

5/7 Minutos, o tempo necessário não só para o encontrar, como também para arranjar boleia até ao antro da perdição. Confortavelmente instalados em “puffs” e rodeados de esferovite, fazíamo-nos acompanhar por todo um rol de personagens, uns mais afáveis e risonhos, outros menos pedrados e/ou alcoolizados, etc.… De destacar a presença de Cristo, que não só teve a graciosidade de dispensar um cumprimento, como também de simultaneamente, num gesto demonstrativo de enorme proeza, enrolar substâncias ilícitas em plena auto-route.

Acampamos, discutiu-se brevemente o que haveria para ruminar pois de bandulho fragilizado tornar-se-ia mais complicado saborear os deleites nocturnos com que seríamos confrontados. Comida de plástico, como alguém um dia apelidara, alguém que certamente por padecer de colesterol elevado era obrigado a renunciar a um prazer e decidiu baptizar depreciativamente o agregado composto essencialmente por massas, molhos e todo um rol de ingredientes salutares ao paladar.

Do jantar não se fez apenas o prato principal, as entradas, compostas por caseiros enchidos em brasa assados e embebidos por álcool no seu mais puro estado, fizeram as serventias dos convidados que mais não lá estavam que para manter o equilíbrio ébrio aguardando ansiosamente a ida para o lúgubre local onde decorriam as cerimónias em devoção do padecido animal.

Refastelados e refeitos do efeito provocado pela larica, retomava-se a compostura e íamos finalmente dar de caras com o verdadeiro festim. Um luar tentava penetrar na nebulosidade que de resto assombrara também toda a tarde. Desbravando pelo desconhecido território íamos percorrendo a escuridão em direcção a nenhures, até que a agitação desvendou um amplo e lamacento baldio.

Barraquinhas, barracões, luz, música, cheiro intenso ao álcool, elementos que pareciam anunciar que era improvável que estivéssemos noutro local se não no que realmente pretendíamos. Pensei por momentos “e se não passar de um comício comunista?”, cedo dissipei todas as dúvidas pois apesar de pairar um odor, não identificado mas semelhante ao incenso, não se verificava aquela ligeira camada nebulosa, característica em eventos de cariz politicamente canhoto.

Decorriam várias actividades quando demos entrada no recinto, de salientar naturalmente Marante, líder nato dos Diapasão, que actuava no palco refugiado por detrás dos locais de consumo. Pouco ligamos, havia um assunto bem mais importante a tratar – o natural reconhecimento do terreno. O espaço era aberto, porém pouco vasto e em não mais que três minutos, se completavam voltas ao mesmo. Cansado e em angústia, causa directa da secura sentida, abancar era a palavra de ordem para retratar as chagas que se iam aprofundando.

Do outro lado eram dadas indicações, novo artista subiria ao palco. Juntamo-nos à restante comunidade e somos deleitados com a presença de 5 belos exemplares femininos que aparentemente, acompanhando belas coreografias, também cantavam. Triste o momento em que abandonaram o palco, uma solidão irrompe-se-me pela alma, o que conduziu a nova procura de companhia.

Quem tem amigos não falece em estabelecimentos prisionais, daí apelando ao meu lado social fui em busca dos mesmos. Emerso numa imensa multidão, naveguei por entre correntes até dar por mim em rodas tentando avistar algo. Não foi necessário, o alvo fui eu. Como que de assalto, trajado a rigor o individuo envolve-me num abraço heterossexual, perfumado por laços de amizade antigos. Socializamos com os demais presentes no limitado e próximo perímetro que traçamos.

Entre tudo isto passaram-se um bom punhado de horas, julgo que entretanto as ameaças tempestivas concretizaram-se por momentos, confesso que a escassa luminosidade que se sentia me trai neste apontamento, facto é que de novo o sol arrebitaria por entre as colinas e dava lugar a um novo e limpo dia. Toda aquela zona se revelava claramente pela primeira vez, e qual não é o meu espanto quando dou por mim junto aos meus companheiros de viagens curtas, mas urgentes. Sempre iguais, os Toy-toy mantinham uma discreta mas firme postura junto da periferia do recinto.

Tempo de despedida, de retorno, os moliceiros aguardavam-nos por entre os sinuosos canais algures entre a apanha do berbigão ou uma simples viagem turística. Partimos, não sem antes deixar marcas, recordações, ou outras futilidades que mais não serviam para mais tarde relembrar momentos, ocasiões. Demos início à marcha, longo seria o caminho a percorrer.

Um autêntico deserto, seria a mais perfeita descrição do que nos rodeava, não se sentia a presença de qualquer alma humana, apenas nós perseguidos pelos raios solares e um extenso rectilíneo curso pela frente. Seguimos, andamos, continuamos a seguir e a andar sem chegar a qualquer lado. Poderia ser uma metáfora mas era somente a realidade, onde quer que parássemos e a quem quer que perguntássemos a resposta era inevitavelmente sempre a mesma. Desanimados mas convictos, não desistimos de prosseguir no encalço da “besta de ferro”.

Demorou, muito ou se calhar nem tanto, mas haviam regressado as dores, as feridas e o cansaço ressentiam-se e estavam decididos a não facilitar o traçado que restava. Quais peregrinos que mantinham o esforço apesar do sacrifício, devotamente iamos em busca dum santuário que nos conferisse o repouso merecido.

Atempadamente se avista o salvador. O metálico monstro perecia adormecido aguardando a exactidão horária que o levaria a despertar e a galgar os mais que revisitados trilhos. Houve que antes comprar o ingresso, houve que antes esperar por um dos que connosco partira, houve que antes respirar fundo e tomar consciência de que o destino seria outro, tudo aquilo ficaria para trás, para, quem sabe, um dia mais tarde regressar.

Com mais ou menos dificuldade nos instalamos, com mais ou menos dificuldade transitamos de transporte, com mais ou menos dificuldade demos por nós de novo em terra e em direcção a casa.

De acções que não passam de simples memórias, perdurarão pelo menos, por estas e por outras páginas que virão, mais um relato, uma narração, uma história. Até que ponto será tudo isto verdade? Ninguém sabe, ninguém saberá, não é suposto ninguém saber. O que resta é deixarmo-nos levar pelo fantástico inerente a todas elas. Mais virão e, assim o espero, melhores.

terça-feira, março 14, 2006

Festividades Carnavalescas.

Entrados e saídos do Entrudo, aproveito a então oportunidade para dar parte da minha experiência e opinião pessoal relativamente a esta época, para uns feita de sambas e trajes menores, para outros máscaras e vestimentas satíricas ou somente personificações heróicas e parolas.

Não sendo grande a tradição foliar por terras de Cambra, o desejo de por cá permanecer durante este período era diminuto e portanto havia que arranjar forma de migrar para um outro qualquer local que nos garantisse farra até às tantas e com alguma qualidade. Reconhecida que é a fama ovarense, a tentação reclinava-se nesse sentido, pois por diversas e convergentes opiniões a decisão parecia ser a acertada. Lá diz o ditado que todos os caminhos vão dar a Ovar, no entanto, se forem feitos a pé, torna-se numa coisa desagradável.

E porque conduzir sem carta poderia conduzir-me a paragens menos desejadas, decidi, qual íman, colar ao primeiro que me pudesse guiar por entre brumas e vales até ao abençoado sambódromo. Digamos que o sucesso da missão foi a modos que nulo, o que me confinaria portanto a celebrações caseiras e mais em conta. Caseiras, mas não necessariamente por casa, visto que já que não se iria para fora aproveitar a ocasião de forma muito louca, poder-se-ia aproveitar de forma mais comedida na companhia dos conterrâneos.

Cedo se saiu, viram-se caras conhecidas porém a grande parte desmascarada, compreensível pois por si só na maioria figurava um semblante circense e deprimente quanto baste. Com o andar das horas foram surgindo os primeiros figurões e fui recomendado e tentado a aderir ao festim, recorrendo a um traje já uma vez envergado e com repercussões posteriores francamente positivas.

A rigor estava e apesar de distinto na multidão, a preocupação continuava a residir no destino final da noite. Após dois ou três minutos de um “parlapier” da treta finalmente se conseguiu convencer alguns portadores de viatura gentilmente cedida pelos progenitores, a conduzir-nos até ao epicentro da acção.

Acompanhados por uma banda sonora de qualidade pastilhada, chegados por nós demos por fim a Ovar. O facto de estar enfarpelado de acordo com a época, permitia que se desse azo a certas liberdades e tratei pois então de transmitir alguma cultura à demais população, quero eu com isto dizer que aproveitei para demonstrar pela primeira vez a dança do caranguejo. Pelo nome não será difícil desvendar como será, na prática não passa de um punhado de movimentos que resultam num ridículo espectáculo para quem tem o infortúnio de assistir.

Quando a imaginação é grande a coisas bonitas se tem a oportunidade de assistir e como tal, o ambiente que se vivia era extremamente festivo. Felizmente que grande parte dos presentes adoptara uma personalidade alternativa, vai daí que facilmente me senti integrado. Integrado porém com grande secura o que automaticamente levou à procura de um tasco para aliviar a urgente necessidade.

Descrevendo um pouco o local onde me encontrava, poderei começar eventualmente pela rua da felicidade, não por haver gente feliz, mas antes quem procurasse essa alegria nas tabernas que por ali se encontravam à disposição. Junto e erguida de forma imponente, uma tenda esbranquiçada albergava para além de muito gado, uns mini-bares, dj’s, material de som e luz, umas vergas de ferro que suportavam a estrutura, umas bases de madeira, balões, placares, bla bla. Do lado de fora ainda se era possível verificar a presença de um par dos míticos Toy-toy (ver diário da queima).

Estamos em Portugal e como não chegamos à Índia nem descobrimos o Brasil estando à espera em filas de amostras de casas de banho, tendo a não menos de 10 metros um rio semi-vazo, era vê-los aos pares, dezenas ou meias centenas todos de braguilha aberta aliviando-se de forma a que não se deixassem levar pelos ânimos e fossem arrastados pela corrente que lhes percorria pela frente.

Era tudo engraçado, as fatiotas, os arranjos, os casalinhos a condizer, os ursos, as crianças metidas de cabeça para baixo nos caixotes do lixo, enfim tudo menos um aspecto: o Nody. Ora aproveito para deixar o alerta, este pequeno boneco que às mentes mais distraídas mais não serve que para entreter miúdos de faixa etária reduzida, tem sim por via dissimulada atingir uma causa bem maior, a dominância mundial. Por todo o lado se viam petizes e graúdos assim vestidos, pareciam aqueles cogumelos selvagens que nascem à sombra das árvores, ninguém sabe como mas mal damos por eles e já lá estão meia dúzia, assim também o era com o exército de Nodies. Não passam do joelho talvez, mas ainda assim o colorido das vestimentas é irritante que chegue para levar ao desespero qualquer daltónico.

Prosseguindo os relatos que nem só de conspirações se fez a noite, constatei de ânimo entusiasmado a preferência feminina na representação de especímenes animais que se repercutiam em costumes agradavelmente reduzidos, numa palavra diria: festadaminisaia. Revisitado o ambiente, prosseguiu a noite com muita dançaria, algumas amistosas propostas para fotos conjuntas, muito abanão do capacete (literalmente), ingestões líquidas/sólidas, diálogos, monólogos, pensamentos, ilusões desiludidas, de tudo um pouco durante pouco mais de meias dúzias horárias.

Era tempo de volver à pátria-mãe com mais ou menos mazela, ficando contudo a certeza que aquela foi de facto a melhor opção, sem dúvida a requerer repetição numa futura edição.

Farewell ;-)