quinta-feira, janeiro 19, 2006

Prosperidades inesperadas.

Naturalmente vou iniciar esta crónica com os desejos de um excelente ano para o caro leitor. Estava 2005 a dar as últimas, era portanto importante assinalar as despedidas desse que por larga vantagem venceu o título de “pior ano de sempre”. Poderia eventualmente enumerar as razões que promoveram à eleição do mesmo, mas julgo não ser necessário na medida em que uma mera leitura diagonal por este espaço cultural, será suficiente para permitir chegar a uma justificada conclusão.

Porque certas ocasiões exigem celebração, o desfecho do passado ano requeria algo em grande, por um lado porque iria dar lugar a um futuro que se deseja próspero, por outro lado para vingar o que se sucedera em congéneres festividades de começo de ano. Havia portanto que organizar tudo atempadamente para evitar repetir certos erros. Em cima da mesa foram colocadas diversas opções que estavam disponíveis e de entre as mesmas ressaltava de tudo um pouco, desde o ponderável ao razoável, do descartável ao resignável.

Trocando esta conversa toda por miúdos, peremptórios fomos em anular a opção tomada em 2004 ( com vista a 2005 ), tanto pela desagradável anterior experiência como pelo exorbitante valor praticado este ano, neste momento o ponto de situação era portanto -1. De seguida analisaram-se as opções locais, que não necessitassem grandes deslocações e de preferência que fossem o mais contidas no que toca a despesas. O tempo ia passando e em termos de resoluções práticas praticamente nada se decidia.

Após muito se debater, estávamos reduzidos a duas possíveis escolhas que, não variando muito no preço, variavam naturalmente naquilo que mais interessava, a companhia. Avançando uns dias na cronologia, pois de um largo período de reflexão se faz a história, encontramo-nos pois então em pleno dia 31, e para todos os efeitos havia sido tomada uma marcante decisão: 7º bar. O preço a rondar os 20€, amigos por lá perdidos, um ambiente familiar, pareceu ser o mais correcto.

Seriam por volta das 6 da tarde, quando os responsáveis pela organização do quimérico evento se reuniram no sentido de avançar com a preparação da munição para que o mesmo fosse um sucesso. O tempo avançava, faltariam pouco menos de duas horas e deu-se o encontro de todo o pelotão em território caseiro, tendo como anfitrião eu próprio.

Dava-se início pois então à melhor passagem de ano de sempre (ou pelo menos assim se desejava), e nada melhor que promover o desenvolvimento da liberdade criativa de cada um com o habitual suplemento, que acima de tudo nos proporciona companhia e alguma alegria, isto dentro das proporções adequadas.

Pela primeira vez e com alguma surpresa, contamos com o inexcedível glamour de uma companhia feminina, a convite do não menos surpreendente Cristo-rei que também acabaria por se superar à conta do seu robusto charme. Entre cantigas, canções, joguinhos, discussões, guitarradas e borrachões, não convinha esquecer o verdadeiro propósito da noite, saber quem venceria a 1ª. Companhia, aliás a entrada em 2006! Distraídos que estávamos em animada tertúlia, somos alertados por Júlia Pinheiro relativamente à falta de uns escassos 10 segundos para término da vil temporada.

10, 9, 8… e tratou-se de agarrar no espumante de elevada qualidade que nos fora ofertado pela mão de um dos presentes. 7, 6, 5… era retirado o invólucro prateado que reveste o complexo alumino-córtico. 4,3, … desarma-se a tenda que envolve a rolha, 2, 1, 0 E puff, eis que o borbulhante líquido verte para os insaciáveis copos e também um pouco para a carpete (consta, pois foi um facto nunca verificado) e como tal demos por nós, na companhia da TVI, entrados no novo ano. Brinde feito, passas nunca sob a forma de frutos secos, prosseguimos com o ambiente recreativo e didáctico até por volta da uma e meia da manhã. Chegara a hora de irmos desejar também um bom ano ao resto do mundo, de forma a celebrarmos da melhor maneira mais um recomeço.

Porque do desperdício não se faz a nossa maneira de ser, ao que restava da festança decidimos dar um novo destino, que nos seguisse fielmente durante a noite para que a mesma se fizesse por menos uns trocos. Ora nem todos atenderam, nem entenderam, o conceito de “durante a noite” e reduziram o mesmo a alguns minutos.

Muita luz, muita animação, garrafa na meia, bilhete na mão, e entusiasmo que chegue para o que desse e viesse. Porém há alturas na vida de um homem, em que as coisas perdem o seu real sabor, e como tal o real valor é subestimado em virtude do escorrimento com que a situação se vai desenvolvendo.

Fermentação um atentado ao equilíbrio. Assim poderia ser um hipotético título desta crónica, e talvez uma, ainda que medíocre explicação a determinado acontecimento, a fermentação neste caso não seria relativo à feitura da cerveja mas antes ao processo químico desenvolto na cavidade estomacal que para além de provocar a expulsão inadvertida do que previamente tinha sido consumido, também foi responsável pelo desequilíbrio mineral ocorrido a nível ósseo com reflexão consequente na postura envergada, e também por um saudável apagão no órgãos sensoriais responsáveis pela memória e pela dor, leigamente falando, foram relatadas eventuais situações menos dignificantes, que à falta de confirmação, não passam de simples blasfémias no sentido de conspurcar uma imagem já de si pouco iluminada, concretamente a minha.

Ora como nem só de figuras menos felizes reza a história, consta que a noite foi muito boa, as pessoas estavam felizes, a música era agradável, o ambiente era portanto de festa, e se por um lado uns como que jaziam na cama ainda antes do apogeu nocturno, outros não se fizeram rogados, e bem mais conscientes aproveitaram para gozar mais umas horas.

Foi melhor, não foi como previsto por certo, mas melhorou-se e como tal, e com base em mais uma experiência, todos crescemos mais um bocadinho, retiramos as devidas ilações e só resta mesmo desejar ( para além de um óptimo ano ) que no final se dignifique mais uma vez a nossa real capacidade para organizar passagens de ano.

Vemo-nos por aí. :D