terça-feira, março 14, 2006

Festividades Carnavalescas.

Entrados e saídos do Entrudo, aproveito a então oportunidade para dar parte da minha experiência e opinião pessoal relativamente a esta época, para uns feita de sambas e trajes menores, para outros máscaras e vestimentas satíricas ou somente personificações heróicas e parolas.

Não sendo grande a tradição foliar por terras de Cambra, o desejo de por cá permanecer durante este período era diminuto e portanto havia que arranjar forma de migrar para um outro qualquer local que nos garantisse farra até às tantas e com alguma qualidade. Reconhecida que é a fama ovarense, a tentação reclinava-se nesse sentido, pois por diversas e convergentes opiniões a decisão parecia ser a acertada. Lá diz o ditado que todos os caminhos vão dar a Ovar, no entanto, se forem feitos a pé, torna-se numa coisa desagradável.

E porque conduzir sem carta poderia conduzir-me a paragens menos desejadas, decidi, qual íman, colar ao primeiro que me pudesse guiar por entre brumas e vales até ao abençoado sambódromo. Digamos que o sucesso da missão foi a modos que nulo, o que me confinaria portanto a celebrações caseiras e mais em conta. Caseiras, mas não necessariamente por casa, visto que já que não se iria para fora aproveitar a ocasião de forma muito louca, poder-se-ia aproveitar de forma mais comedida na companhia dos conterrâneos.

Cedo se saiu, viram-se caras conhecidas porém a grande parte desmascarada, compreensível pois por si só na maioria figurava um semblante circense e deprimente quanto baste. Com o andar das horas foram surgindo os primeiros figurões e fui recomendado e tentado a aderir ao festim, recorrendo a um traje já uma vez envergado e com repercussões posteriores francamente positivas.

A rigor estava e apesar de distinto na multidão, a preocupação continuava a residir no destino final da noite. Após dois ou três minutos de um “parlapier” da treta finalmente se conseguiu convencer alguns portadores de viatura gentilmente cedida pelos progenitores, a conduzir-nos até ao epicentro da acção.

Acompanhados por uma banda sonora de qualidade pastilhada, chegados por nós demos por fim a Ovar. O facto de estar enfarpelado de acordo com a época, permitia que se desse azo a certas liberdades e tratei pois então de transmitir alguma cultura à demais população, quero eu com isto dizer que aproveitei para demonstrar pela primeira vez a dança do caranguejo. Pelo nome não será difícil desvendar como será, na prática não passa de um punhado de movimentos que resultam num ridículo espectáculo para quem tem o infortúnio de assistir.

Quando a imaginação é grande a coisas bonitas se tem a oportunidade de assistir e como tal, o ambiente que se vivia era extremamente festivo. Felizmente que grande parte dos presentes adoptara uma personalidade alternativa, vai daí que facilmente me senti integrado. Integrado porém com grande secura o que automaticamente levou à procura de um tasco para aliviar a urgente necessidade.

Descrevendo um pouco o local onde me encontrava, poderei começar eventualmente pela rua da felicidade, não por haver gente feliz, mas antes quem procurasse essa alegria nas tabernas que por ali se encontravam à disposição. Junto e erguida de forma imponente, uma tenda esbranquiçada albergava para além de muito gado, uns mini-bares, dj’s, material de som e luz, umas vergas de ferro que suportavam a estrutura, umas bases de madeira, balões, placares, bla bla. Do lado de fora ainda se era possível verificar a presença de um par dos míticos Toy-toy (ver diário da queima).

Estamos em Portugal e como não chegamos à Índia nem descobrimos o Brasil estando à espera em filas de amostras de casas de banho, tendo a não menos de 10 metros um rio semi-vazo, era vê-los aos pares, dezenas ou meias centenas todos de braguilha aberta aliviando-se de forma a que não se deixassem levar pelos ânimos e fossem arrastados pela corrente que lhes percorria pela frente.

Era tudo engraçado, as fatiotas, os arranjos, os casalinhos a condizer, os ursos, as crianças metidas de cabeça para baixo nos caixotes do lixo, enfim tudo menos um aspecto: o Nody. Ora aproveito para deixar o alerta, este pequeno boneco que às mentes mais distraídas mais não serve que para entreter miúdos de faixa etária reduzida, tem sim por via dissimulada atingir uma causa bem maior, a dominância mundial. Por todo o lado se viam petizes e graúdos assim vestidos, pareciam aqueles cogumelos selvagens que nascem à sombra das árvores, ninguém sabe como mas mal damos por eles e já lá estão meia dúzia, assim também o era com o exército de Nodies. Não passam do joelho talvez, mas ainda assim o colorido das vestimentas é irritante que chegue para levar ao desespero qualquer daltónico.

Prosseguindo os relatos que nem só de conspirações se fez a noite, constatei de ânimo entusiasmado a preferência feminina na representação de especímenes animais que se repercutiam em costumes agradavelmente reduzidos, numa palavra diria: festadaminisaia. Revisitado o ambiente, prosseguiu a noite com muita dançaria, algumas amistosas propostas para fotos conjuntas, muito abanão do capacete (literalmente), ingestões líquidas/sólidas, diálogos, monólogos, pensamentos, ilusões desiludidas, de tudo um pouco durante pouco mais de meias dúzias horárias.

Era tempo de volver à pátria-mãe com mais ou menos mazela, ficando contudo a certeza que aquela foi de facto a melhor opção, sem dúvida a requerer repetição numa futura edição.

Farewell ;-)