segunda-feira, novembro 07, 2005

SICA XI - A Grande Batalha

Começava a ser escrito mais um capítulo na história universitária, velhos rivais encontravam-se e preparavam-se para mais um duro e viril embate mano-a-mano que durante eras tem vindo a provocar inúmeras baixas.

Biologia e Ambiente, um interesse em comum, a total aniquilação do adversário. Os senhores da guerra reuniram-se em terreno neutro incerto para debater os termos do durante e pós batalha, chegando a um consenso: granadas, minas, chicotes, navalhas, prisioneiros ou até mesmo violações eram permitidos mas em tempo algum poderia ser usada essa letal arma no combate ao crime: o ácido acético, vulgo vinagre.

As tropas foram convocadas, reunidas e informadas do teor da assembleia extraordinária que havia decorrido. Todos assentiram e puseram mãos à obra pois sabia-se que as forças do mal contavam com um número várias vezes superior de elementos à sua disposição.

Azuis, verdes, amarelos, brancos, vermelhos, roxos, S ou L, o arsenal recolhido estava pronto para ser equipado. Pólvora, pimenta, HCl, urânio empobrecido ou até mesmo o rubi vermelho foram recomendados pelos especialistas do ramo no sentido de provocar a total extinção da espécie “Bioshocus animalus”, no entanto ficamos-nos pela aguínha da torneira.

Semanas de treino, dias de prática, horas de estudo, tudo em prol do sucesso da operação prestes a executar. Momentos antes de tudo acontecer ultimavam-se preparativos no que diz respeito ao armamento.

Dezoito horas como marcado, eis que o exército ambientalista, após concentração prévia no quartel respectivo, avança em direcção ao campo de batalha, não sem antes passar junto àqueles pelos quais tanto anseavam.

Era tempo de dispor os bravos no terreno e incumbir a cada um específica tarefa, a qual urgia de precisão precisa, relembrando a desproporção face ao inimigo. Tratou-se de definir que face à clara desvantagem havia necessidade de sacrificar alguns dos soldados em nome de todo um curso, soldados esses que em amplas demonstrações de coragem penetrariam território pantanoso, selvático, quiçá arenoso, pelo menos assim reza a história, pois de heróis passados nunca o regresso fora realidade. Decidiu-se em tom irónico apelidá-los de “kamikazes”.

Mas o avançado treino ao qual os “ Patronus Ambientalis” se sujeitaram, não serviu apenas para os ditos “kamikazes”, deste sairam autênticas máquinas de guerra, sujeitos sedentos de sangue prontos para matar e cujo equipamento se cingia a uma bata branca e um par de luvas de latex (literalmente), a estes designamos por “para-médicos”, ou então os esquartejadores, indivíduos preparados pelos mais qualificados "sensei", mestres na arte de manejar "laminosas" , porém à falta de sabres, ficaram-se pelo semelhante a máquinas de sulfatar manuais.

Ora referidas que estão as equipas de intervenção da linha frente, há que homenagear a não menos corajosa equipa da retaguarda. Duas filas dispostas horizontalmente, devidamente espaçadas e munidas com o mais brutal equipamento de chacina. Dotados de uma mira nanométrica, usando uma simples fisga são capazes de acertar numa toupeira a 3 kilómetros de distância, estando de olhos tapados, de costas, mãos amarradas, a serem espancados, e a toupeira a uma profundidade de 100 ou 200 metros.

Ruidoso ruído reflectia-se no horizonte, pássaros irrequietavam-se e um pútrido e intenso odor invadia todo o recinto, alerta, a trupe ambientalista avistava os “bioshocus” acercarem-se do túmulo que os esperava. Grunhindo feminina e violentamente, encontravam-se entusiasmados e excitados confiantes na sua superioridade numérica.

Viveram-se minutos de extrema tensão entre as facções adversárias, o ambiente estava electrizante e eis que chegara o tão aguardado momento. Qual Frodo encarregue de levar o anel até à Montanha de Fogo, Sidónio ficara encarregue da ingrata tarefa de ter que expor o seu nalguedo à poluição e às radiações envolventes, neste caso não virado para meca mas sim para os alienados.

E assim começara, ainda antes que o sol brilhasse em rabo alheio reluzindo como Lua Cheia de Agosto, eis que os jovens suicidas velozes avançaram pelos flancos com nada mais que uma forte vontade de serem violentados ( e porventura violados ). Invadido que estava, era altura de fazer o reconhecimento ao local e começar a provocar o pânico e o terror entre as hostes residentes. Sangue, muito sangue e talvez um ou outro braço, jamais se pensara que os níveis de agressividade, horror, tragédia se elevassem de tal maneira, enquanto uns pensavam nas famílias, nos animais, no clube, lá continuavam eles, autenticas baratas tontas espezinhando minas levando com o fogo cruzado ou simplesmente sendo pontapeados, porém sem nunca mostrar sinais enfraquecimento ou descrédito na vitória.

Do outro lado, as coisas corriam bem melhor, partida que estava a ofensiva adversária, nada puderam contra a organizada defensiva que qual exército de D. João I em Aljubarrota e apesar de não aplicada a tática do quadrado, despachou as “bioshockas” como se de espanhois se tratassem.

Estava tudo muito perto do fim, se não quando um contra-tempo surge que poderia por em causa o sucesso de toda a operação, que poderia provocar um revés em toda aquela situação. Apesar de afixado, apesar de avisado e sobreavisado, apesar dos constantes lembretes antes e durante a Grande Guerra, é denunciado o uso do fruto proíbido. O cheiro não o desmentia, estavamos na presença do ácido acético. Um enorme reboliço gerou-se e as atenções não mais estavam concentradas em acções belicistas, pois mesmo essas já estavam mais que definidas ainda antes do início.

Os olhos. Não se sabendo de quem partira a agressão, não se sabendo como fora efectuada, apenas se sabendo o alvo atingido, os olhos. É obvio que o importante no meio disto tudo não era saber quem ou o que fora atingido, o importante é que um código de conduta e de ética havia sido desrespeitado. O reagrupamento dos pelotões e o acalmamento dos mesmos era uma necessidade. Cordialmente e de urgência os capitães de cada lado reuniram-se, discutiram sobre o assunto e concordaram sobre os vários erros cometidos ( nomeadamente dos biológicos em terem aparecido ).

Era tempo do regresso, haviam feridos e feridas a sarar, engessamentos, entalamentos, contusões, transplantes, transfusões, no meio de tanta confusão só uma certeza permanecera: 15-0 dirão uns, até os comemos dirão outros, o certo é que nada foi capaz de parar a armada ambientalista.

Regozijemos pois então mais uma vitória e enquanto isso ficaremos a aguardar por mais uma re-edição com promessa de uma vez mais renovarmos e mantermos o título de invencibilidade.

Intés...

sexta-feira, novembro 04, 2005

O recomeço...

Passada a época dedicada à lavoura, eis que regressamos ao que tanto nos deu que fazer e que no entanto tão pouco acabou por ser feito. Foram bons aqueles 29 dias de correrias atarefadas, mazelas físicas tudo isto acompanhado pela banda sonora composta por 9 ou 10 máquinas que carboravam qual orquestra a tocar a 9ª sinfonia de Beethoven.

Mas é necessário andar para a frente e como tal, mais recheada a conta a bancária, saradas as feridas e feita a matricula correspondente, dou por mim novamente no local do crime. Como qualquer criminoso que se preze, o regresso era previsível e inevitável. Um início marcado pela serenidade e sobriedade de duas ou três noites marcadas para relembrar momentos aureos por lá vividos.

O caloiro...

Bom, qual a melhor definição definição de caloiro? Uns por ventura dirão que é um animal sem sexo ou direitos, outros não o dirão porque se encontram nessa posição. Duma coisa estamos todos de acordo, só o somos uma vez na vida. Isto pelo menos em teoria, eu atribuiria o título de caloiro não ao número de matrículas mas antes ao estado de espírito exibido pelo indivíduo. A prova disso mesmo é a existência dos chamados caloiros infiltrados, gente que ou procura integração, ou gosta de se exibir ou tão simplesmente se diverte como tal. Duma coisa é certa todos temem a tão falada praxe.

Existem rituais esquisitos praticados por certos individuos que se julgam superiores a outros por alegadamente se vestirem de maneira diferente, não vamos falar dessa gente mas falemos antes da praxe. Ora a praxe e vamos a um bocado de história, remonta ao ano de 1765, provem do latim praxis que significa p=party, r=ramboia, a = amanda-te que se ela não quiser diz não, x=xii bebeu demais, i=ii outro que capotou e por fim s=s’alguem vir o meu tlm por ai que mo dê. Temos que na altura havia muito tempo livre e o alcool já então era uma realidade, daí que achou-se por bem arranjar mais uma desculpa para que se pudesse beber desenfreadamente até ao estado de espumescência oral, e porque não juntar a isto tudo alguma diversão.

Nem só de diversão vive o Homem e ao contrário do que muitos possam pensar a praxe propriamente dita nada tem a ver com a tradição académica e muito menos tem algo a ver com Coimbra.

Isaltino Arrolhos, tasquista valecambrense decidiu um dia emigrar indo parar a Oliveira de Azemeis (aí uns 8/9 kilómetros de distância ) e enquanto forasteiro teve necessidade de se integrar na comunidade. A principio as coisas não foram fáceis, principalmente a parte em que as crianças lhe davam pontapés e chamavam nomes, no entanto Isaltino estava mentalizado em cingrar no estrangeiro, senão quando, em glorioso dia depara-se com o que de facto lhe mantivera acesa a alma todo aquele tempo, uma tasca. Isaltino entrou confiante e cofiando o bigode mal tratado ( pontas espigadas, nao usava pantene pro-v ) eis que pede em voz alta “ É uma malga de tinto maduro!”, em região de vinho verde eis que todos olham para o balcão onde o destimido estranho acabara de fazer tal arrojado pedido. Os três indivíduos que se encontravam no estabelecimento levantaram-se e dirigiram-se de forma ameaçadora em direcção a Isaltino que em gesto repentino agarra na malga com a mão direita como se de uma arma se tratasse e ao elevá-la ao nível do buço é quase agredido pelos grunhidos disformes proferidos pelos conterrâneos que pareciam dizer algo como “ Mão direita, mão direita é penalty!”. Isaltino cedo percebeu o que tinha que fazer e inspirando fundo deu três corajosas goladas e matou o inimigo, que é como quem diz bebeu todo o conteúdo da malga. A malga era linda. Branca, com um padrão colorido semelhante à mais fina porcelana chinesa, umas manchas rosadas provavelmente pelo facto de estar mal lavada e umas inscrições que pareciam descrever o mais belo dos poemas mas que não era mais que um simples “ Made in Cortegaça”. Arregaçando a manga e pousando a malga, sorrira e dissera “ Consegui!”. Os 3 sujeitos curvaram-se, um deles exclamou “ Avé senhor” e o modesto novo herói apenas conseguiu dirigir um “obrigado” até porque de seguida os homens abandonaram o tasco deixando-no sozinho.

Isaltino sentia-se triste. Demasiado agressivo pensou ele, o certo é que se encontrava ali como que perdido numa terra desconhecida e rodeado por pessoas que nunca vira, o que era verdade mas como já estava embriagado, por momentos, esqueceu-se disso.

Bom.. acho que não era esta a história, de qualquer das formas também ninguém quer saber disso mesmo.

Cingindo-me à realidade que me circunda, deparamo-nos de facto com algo menos trágico e menos saloio. Existem os tascos, existem as malgas, mas existem sobretudo os ditos forasteiros e é sobre isso que vamos falar...