sexta-feira, novembro 04, 2005

O recomeço...

Passada a época dedicada à lavoura, eis que regressamos ao que tanto nos deu que fazer e que no entanto tão pouco acabou por ser feito. Foram bons aqueles 29 dias de correrias atarefadas, mazelas físicas tudo isto acompanhado pela banda sonora composta por 9 ou 10 máquinas que carboravam qual orquestra a tocar a 9ª sinfonia de Beethoven.

Mas é necessário andar para a frente e como tal, mais recheada a conta a bancária, saradas as feridas e feita a matricula correspondente, dou por mim novamente no local do crime. Como qualquer criminoso que se preze, o regresso era previsível e inevitável. Um início marcado pela serenidade e sobriedade de duas ou três noites marcadas para relembrar momentos aureos por lá vividos.

O caloiro...

Bom, qual a melhor definição definição de caloiro? Uns por ventura dirão que é um animal sem sexo ou direitos, outros não o dirão porque se encontram nessa posição. Duma coisa estamos todos de acordo, só o somos uma vez na vida. Isto pelo menos em teoria, eu atribuiria o título de caloiro não ao número de matrículas mas antes ao estado de espírito exibido pelo indivíduo. A prova disso mesmo é a existência dos chamados caloiros infiltrados, gente que ou procura integração, ou gosta de se exibir ou tão simplesmente se diverte como tal. Duma coisa é certa todos temem a tão falada praxe.

Existem rituais esquisitos praticados por certos individuos que se julgam superiores a outros por alegadamente se vestirem de maneira diferente, não vamos falar dessa gente mas falemos antes da praxe. Ora a praxe e vamos a um bocado de história, remonta ao ano de 1765, provem do latim praxis que significa p=party, r=ramboia, a = amanda-te que se ela não quiser diz não, x=xii bebeu demais, i=ii outro que capotou e por fim s=s’alguem vir o meu tlm por ai que mo dê. Temos que na altura havia muito tempo livre e o alcool já então era uma realidade, daí que achou-se por bem arranjar mais uma desculpa para que se pudesse beber desenfreadamente até ao estado de espumescência oral, e porque não juntar a isto tudo alguma diversão.

Nem só de diversão vive o Homem e ao contrário do que muitos possam pensar a praxe propriamente dita nada tem a ver com a tradição académica e muito menos tem algo a ver com Coimbra.

Isaltino Arrolhos, tasquista valecambrense decidiu um dia emigrar indo parar a Oliveira de Azemeis (aí uns 8/9 kilómetros de distância ) e enquanto forasteiro teve necessidade de se integrar na comunidade. A principio as coisas não foram fáceis, principalmente a parte em que as crianças lhe davam pontapés e chamavam nomes, no entanto Isaltino estava mentalizado em cingrar no estrangeiro, senão quando, em glorioso dia depara-se com o que de facto lhe mantivera acesa a alma todo aquele tempo, uma tasca. Isaltino entrou confiante e cofiando o bigode mal tratado ( pontas espigadas, nao usava pantene pro-v ) eis que pede em voz alta “ É uma malga de tinto maduro!”, em região de vinho verde eis que todos olham para o balcão onde o destimido estranho acabara de fazer tal arrojado pedido. Os três indivíduos que se encontravam no estabelecimento levantaram-se e dirigiram-se de forma ameaçadora em direcção a Isaltino que em gesto repentino agarra na malga com a mão direita como se de uma arma se tratasse e ao elevá-la ao nível do buço é quase agredido pelos grunhidos disformes proferidos pelos conterrâneos que pareciam dizer algo como “ Mão direita, mão direita é penalty!”. Isaltino cedo percebeu o que tinha que fazer e inspirando fundo deu três corajosas goladas e matou o inimigo, que é como quem diz bebeu todo o conteúdo da malga. A malga era linda. Branca, com um padrão colorido semelhante à mais fina porcelana chinesa, umas manchas rosadas provavelmente pelo facto de estar mal lavada e umas inscrições que pareciam descrever o mais belo dos poemas mas que não era mais que um simples “ Made in Cortegaça”. Arregaçando a manga e pousando a malga, sorrira e dissera “ Consegui!”. Os 3 sujeitos curvaram-se, um deles exclamou “ Avé senhor” e o modesto novo herói apenas conseguiu dirigir um “obrigado” até porque de seguida os homens abandonaram o tasco deixando-no sozinho.

Isaltino sentia-se triste. Demasiado agressivo pensou ele, o certo é que se encontrava ali como que perdido numa terra desconhecida e rodeado por pessoas que nunca vira, o que era verdade mas como já estava embriagado, por momentos, esqueceu-se disso.

Bom.. acho que não era esta a história, de qualquer das formas também ninguém quer saber disso mesmo.

Cingindo-me à realidade que me circunda, deparamo-nos de facto com algo menos trágico e menos saloio. Existem os tascos, existem as malgas, mas existem sobretudo os ditos forasteiros e é sobre isso que vamos falar...

1 comentário:

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom