sábado, julho 22, 2006

O MaioR Mês de Todos (1ª Parte)

O MaioR mês de todos. (1ª parte)

Dando uma olhadela rápida pela agenda, fácil era verificar que a mesma escasseava em espaços brancos por onde escrever qualquer nova tarefa a executar. Ainda a lidar com a ressaca proveniente do desgastante sarau da noite anterior, dava-se início ao verdadeiro enterro, edição 2006.

Um cartaz muito igual aos seus antecessores ou até mesmo aos seus homólogos espalhados pelas academias em geral pelo país fora. Dos cabeças de cartaz figuravam nomes como: Gabriel o Pensador, Pedro Abrunhosa, Quim Barreiros (e surpresas?) e a melhor banda nacional também conhecida por Moonspell.

Novamente o sábado brindaria a entrada na semana do Enterro, um excelente dia de sol patrocinava o boletim meteorológico e uma vontade de dar abertura à época balnear. O meio de deslocação teria que ser o transporte público, cedo se partiu e cedo se chegou à praia da Barra.

Presença habitual nas praias nortenhas, a Nortada fazia-se sentir embalando cabelos no quais se envolvia e por onde desenvolvia uma relação de proximidade capaz de provocar uma irritabilidade dérmica fruto dos arrepios que despontava.

Dos acessórios levados não faltaram as indispensáveis toalhas onde os corpos haveriam de repousar morbidamente, captando as cancerígenas radiações na ânsia que estas despontassem o melanoma que timidamente se resguarda nas células correspondentes.

Em local arenoso, o que também não poderia faltar era o esférico, o baralho de cartas e claro, o protector solar. Bom, havia de tudo à excepção deste último, as consequências reflectiram-se numa pigmentação avermelhada, bem aprazível ao olhar caso se tratasse de um espécimen leguminoso, caso do tomate ou do pimento.

Quanto à noite, figurava um nome maior no cartaz: Gabriel, o Pensador. À primeira, a ideia que talvez surja é que sendo um fim-de-semana, e representando o artista a vertente “hip-hop”, a chungaria dominaria todo o recinto académico. Mas antes de tudo isso, porque não começar pelo princípio…

Não tenho ideia de como terá começado a noite, lá vai o seu tempo, de todo o modo o percurso era o habitual, as rotundas estavam presentes e a pedir para serem contornadas, o recinto contudo era diferente dos anteriores. Se o pavilhão principal continuava a ser a grande atracção, no seu exterior algumas alteração foram incutidas e muito bem. Para além dos cubículos “sanitários” a Red Bull investira numa tenda em que para além da bebida à qual dá nome, um som electrónico atribuía um ambiente alternativo ao palco onde actuavam as bandas.

Não sendo a única inovação outras se fizeram no campo do entretenimento insuflável, desde matraquilhos humanos a vulcões, a touros mecânicos e amostras de gladiadores com cotonetes gigantes. No pavilhão pouco a destacar a não ser uma melhor organização das barraquinhas responsáveis pela manutenção dos níveis de boa disposição da classe estudantil.

De forma a resumir, ao contrário da anterior narração, apenas me cingirei às performances dos artistas e não às noites no seu todo já que dada a data que nos distancia do evento os pormenores passam um bocado ao lado.

Como referido a primeira noite era liderada por aquele que seria o maior artista internacional a listar no cartaz de toda a semana, antes actuaria o Bob Marley angolano Prince Wadada, no fundo era o Mantorras do reggae lá da zona. Marca a tradição que um concerto deste género seja caracterizado pelo ambiente descontraído, pausado e que o ritmo se centre na flexão do joelho de não mais que 7 ou 8 graus de maneira a que se evitem lesões a nível do reumático. Gabriel, o Pensador (assim se auto-intitula) deu entrada em palco em grande estilo com uma música muito conhecida, não para mim porque nem sequer me lembro qual foi, mas tenho a certeza que para muita gente que lá estava presente. O grande destaque da actuação vai naturalmente para o momento em que o senhor decide insultar a mãe de todos os presentes repetidamente durante uns 4 ou 5 minutos, o público não satisfeito decidiu colaborar com a onda insultuosa e retribuiu o favor ao senhor. Tirando isto só talvez a altura em que o artista fez questão de exibir o belo exemplar feminino com que se fazia acompanhar e com o qual mantém uma relação marital.

O final da noite ficou marcado pela presença de ursos a circular em motociclos exibindo tangas de leopardo.

O Domingo enquanto sagrado dia que é haveria de ser respeitado no que ao não fazer nenhum diz respeito. Se o trabalho exige arte e engenho muito mais o exige o oposto. Mestre em fazer dos momentos que poderiam ser passado em ociosas actividades em autênticos vazios activos, por uma vez mais dediquei o tempo disponível a absolutamente nada que de interessante tenha seja para quem for.

Nem só de nada vive o homem, por vezes é necessário o indivíduo levantar-se da cama mesmo que sejam 10 horas da noite e fazer valer os investimentos em que se envolve. Dos quarenta euros dispendidos não se iriam desperdiçar meia dúzia deles e faltar a um evento que por pouco apelativo que fosse, não deixava de constar no programa festivo.

Pedro Abrunhosa era o grande destaque musical, entretanto alguém estaria em palco a fazer qualquer coisa, não faço ideia quem, o quê e muito menos porquê, até porque a minha presença fez-se sentir no exterior junto à acolhedora tenda Red Bull. Um som que apesar de não fazer parte do leque das minhas preferências encaixava perfeitamente no espírito da noite, o ambiente era agradável e seguia a bom ritmo até ser interrompido por um francamente mal dissimulado problema técnico. A verdade é que as pessoas acercavam-se cada vez mais daquele espaço alternativo e deixavam Abrunhosa ao abandono e a declamar poemas para meia dúzia de parolos. Felizmente alguém se lembrou de cortar o som do espaço electrónico forçando a convergência do pessoal para junto do palco principal.

A primeira visão não foi muito agradável, calças de fato de treino brancas eram dispensáveis, justas mais ainda, uma t-shirt azul sem mangas também justa como não podia deixar de ser e um casaco à motard para completar o conjunto. Sim, os óculos “la mosca” style também lá estavam como de resto nunca deixaram de estar, sendo uma das imagens de marca do artista.

O nível musical tende a agradar mais ao público feminino que propriamente ao masculino, não que isso se fizesse notar nos presentes já que se encontravam em número muito equilibrado o que me parece compreensível na medida em que elas iam ver o senhor Abrunhosa e eles iam à procura das que iam ver o senhor Abrunhosa.

Dissertemos sobre o indivíduo que busca fêmea em concertos de música de cantores folclóricos. A princípio pode parecer só mais um freguês de camisa listada, primeiro botão (em caso extremo de tentativa de sedução dois) aberto, enverga a cruz ao peito demonstrando a fé que tem no engate, usa calça de ganga passada a ferro pela mãe já que as mãos tem-nas ocupadas a passar o gel pela mona. As características comportamentais essenciais prendem-se com o involuntário levantar de golas, o pedir garrafas de água com gás aromatizadas e invariavelmente repetir a expressão “posso-te conhecer?” aquando do primeiro contacto com o sexo oposto.

Depois deste pequeno momento BBC, permitam que me situe naquele espaço, que é como quem diz, estava totalmente perdido. Confesso que já vi o homem na televisão umas quantas vezes, até tive a oportunidade de o ver ao vivo outrora, no entanto, chegava a ser ridículo o facto de todo o mundo, à excepção de eu próprio, conhecer as letras das canções todas. Agora que reparo nisso retiro uma conclusão um tanto desagradável, se não estava lá pela música talvez seja apenas mais um dos… pelo menos não uso calças de ganga.

A noite é provável que tenha terminado da melhor maneira, visto que eu não faço qualquer ideia do final da mesma mas para todos os efeitos ainda aqui estou logo é sinal que nada de mais se passou. Esta é apenas a primeira parte do extenso material que está para ser escrito relativamente ao mês de Maio, espera-se ainda o resto do enterro em Aveiro mais idas a Coimbra, Porto e Braga, terminando no Super Bock Super Bock, espero durar o tempo suficiente para escrever tudo isto.

Um bem haja.