terça-feira, abril 25, 2006

Flatulência refrescante

Um bem-haja ao caro leitor, após uma ligeira pausa nas remodelações do sector lateral, decidi, porque não, debitar um pouco mais de conteúdo do qual estou eu ciente, certamente fará alguém feliz.

Aproxima-se por uma vez mais um período marcado pela tradição académica. Em jeito de promessa e continuação, o diário da queima será novamente uma realidade, as parcerias foram refeitas e havendo vontade e energia, novos capítulos surgirão.

Em tempo de introspecções, prospecções ou simples reacções, antecipemos ou limitemo-nos a recordar acontecimentos. Faz não muito tempo todos soubemos, por imposição ou por tabela, dessa grande tragédia que foi a marca atingida pelo barril de crude nos 74 dólares com repercussão directa nas nossas gasolineiras, mas não é isso que me trás por cá. O choque e a devastação abateu-se sobre a erudita sociedade portuguesa, quando num mesmo dia em que 5 pessoas (entre as quais um bombeiro por exemplo) perdem a vida e dois eucaliptos são brutalmente atingidos, o grande destaque informativo vai no sentido de alguém que era importante porque aparecia na televisão.

Desde cedo que em mim se manifestaram problemas a nível respiratório, sem possibilidade de tratamentos dispendiosos, em noites de aflição lá estava ele, sob a forma de pequenas foices que emanavam miraculosos gases perfumados quando em contacto com água próxima do ponto de ebulição. Por certo nunca tomou qualquer papel de destaque em peças teatrais enquanto estudava, muito provavelmente porque seria estúpido ensinar um eucalipto a ler, ou então porque somente o eucalipto sempre foi ostracizado pela sociedade em geral.

O eucalipto é um animal que sobrevive em comunidades relativamente vastas, sendo dotado de uma grande capacidade de sucção, a sua capacidade de adaptação ao continente africano fora infrutífera, como tal, partiu à conquista, atravessou ali o Mediterrâneo e aterrou em Portugal à cerca de, eu diria 3 ou 4 semanas, mas os dados científicos certamente provarão que devem ser mais meia dúzia de dias.

Historicamente o eucalipto tem se destacado especialmente pela negativa. Se em Portugal lhe é apontado, entre outros, a desertificação alentejana, a falta de chuvas o ano passado e o elevado défice, por outro lado foi responsabilizado pelo lançamento de bombas atómicas em Hiroshima e Nagazaki e pelo dilúvio do qual apenas se salvou Moisés e um rebanho de cabras. Nem tudo é mau, de igual modo o eucalipto levou o Homem à lua, trouxe José Mourinho para o Porto e pintou o Michael Jackson de branco.

Demências à parte, até porque eu faço questão de não ler uma segunda vez, conclui-se pois então que isto não faz qualquer sentido, da mesma forma não o fez o mediatismo aplicado ao caso primeiro. O ferir de susceptibilidades, por muito que me dê ou não gozo, integra-se no sentido de que se deixem hipocrisias de lado. A realidade é a seguinte, as pessoas não se interessam por ninguém hoje em dia, e como tal, o porquê do choradio num caso em que apenas mantêm contacto por via electrónica?

Tenho bastante mais ligação ao principal lesado, não só pelo que referi, como pela vertente profissional a que estou conectado, daí que nada, a não ser a relação intra-especifica, me faz ter qualquer tipo de sentimento por um indivíduo que manifestou pura irresponsabilidade. Posso eventualmente desiludir alguém, felizmente não me importo com isso, daí que agradeço que não percam a próxima semana, pois a animação vai ser grande.


As remodelações vão prosseguir, a fluência criativa vai naturalmente a continuar a depender de correntes inspiradoras, daí que sem mais assunto de momento me despeço com aquele abraço,

sábado, abril 15, 2006

Vá para fora, mas vá agasalhado.

O título apesar de intrigante, é perfeitamente justificável, sendo eu um indivíduo com tempo livre que chegue para eventualmente iniciar uma colecção de caricas de garrafas de sumo de 1976 dou por mim sem qualquer gosto particular por caricas o que daí advém que eu vá ressuscitar um capítulo dos mais interessantes dos que por ventura haja por aí à espera de ser “capitulado”.

Longe vai o tempo em que a salga do bacalhau se fazia junto à fogueira e longo também é o tempo que demora a ir até Fátima a pé, mas o que importa é que reunidos esforços conjuntos de esforço, dedicação e glória, exaltamos a partir deste momento a saudosa ida ao enterro da gata (paz à sua alma) a Braga.

Uma quarta-feira como outra qualquer, mais um dia enublado, mas um sentimento de querer percorrer esse mundo fora, ver lugares e gentes novas e que melhor que coadunar tudo isso com o espirito académico, daí que impossibilitado de sair do país ( não que tivesse qualquer ordem do tribunal ) rumei rumo a um norte mais anortado cá no nosso cantinho.

Possuído pelo desejo, porém sem viagem programada, um telefonema bastou para tratar de todo e qualquer problema referente à mesma. Trajado a rigor prossigo confiante em direcção ao ponto de encontro, ligeiramente atrasado por certo, no entanto com a certeza de que tudo iria correr bem, senão quando uma simples pergunta despoletou todo um rol de contratempos a roçar o desagradável.

A natureza é cruel e como tal verificam-se situações que ao olhar indiscriminado do mais comum mortal podem parecer injustas, neste caso particular não tem nada a ver, de qualquer das formas determinados factores que por norma nos são extremamente úteis, facilmente se revelam os maiores inimigos, poderia estar a falar de prostitutas filipinas mas para o caso cinjo-me exclusivamente ao tempo.

Ora se meteorologicamente era aparentemente favorável, já fisicamente não poderíamos dizer o mesmo, que é como quem diz, se no quarto de hora próximo não estivéssemos metidos no comboio, bem que podíamos dizer adeus à querida gata e lá teríamos que esperar que enterrassem outro espécimen, pois Bracara Augusta decididamente não viria ter connosco.

Natural curioso que sou decidi questionar-me se de facto haveria razão para desesperarmos e em brusco gesto alcanço o bolso das calças e constato a ausência do meu parceiro móvel e anti-choque. Avançamos então a passo acelerado, sem hipótese de retorno e de rever colegas, amigos, parentes ou mesmo o aparelho telefónico. Ao tempo que se rompia o virgem couro da sola do sapato, em uníssono e em tom de protesto também a epiderme das extremidades inferiores se ressentiam, infligindo inadvertida dor no correspondente proprietário, eu próprio.

Capas por ventura, todavia nenhum dos envolvidos guarnecia de vassouras levitantes, cicatrizes na testa ou até mesmo simples óculos que disfarçassem eventual problemática óptica, como tal imaginários fantasiados por autor alheio de pouco serviam, ficamo-nos então pelo atleta luso-nigeriano saído de um qualquer local de construção civil, como modelo de inspiração ao sacrifício a que nos sujeitamos.

Velozes, determinados e mais importante que tudo a tempo de apanharmos o trem da felicidade. Passado o pior, era necessário recuperar o fôlego e como tal recostamo-nos junto à saída do comboio visto estar repleto. Sapatos, gravatas, casacos ou coletes, tudo incomodava e tive a oportunidade de verificar as primeiras mazelas que justificadamente provocavam um ardor incomodativo.

O primeiro ponto de chegada fora atingido e restavam 20 minutos até segunda largada. Um kit de primeiros socorros teria sido útil, mas na ausência de tal equipamento, simples lenços brancos, que por norma seriam revestidos por viral gosma “gripica”, teriam que funcionar quais pensos rápidos. Aplicados que estavam os curativos, prosseguimos até ao nosso real destino.

E porque sentado a pressão que se exerce sobre os pés não é tanta como isso, cedo comprovei que de facto os 20 minutos que perdera a tentar confortar os pés forrando-os com celulose vegetal branca, haviam sido inúteis, pois a dor contra-atacara mal a passada fora retomada. E se caminhando não era bonito, novamente a marcha adquirira ritmo acelerado em direcção ao tão bem fadado desfile.

Lá estavam eles, camiões decorados com enfeites diversamente coloridos, satíricas mensagens endereçadas a superiores, bonecos modelados de forma a transmitir um qualquer critico significado, nós porém, só lá estávamos pela cerveja e pelas meninas.

Um primeiro olhar, uma primeira impressão: estávamos no local certo. Milhares de pessoas preenchiam uma avenida de aspecto românico, romântico, rústico mas acolhedor. Era tempo pois então de prosseguir com o objectivo inicial, arranjar companhia. Identificados que estávamos com tão distintos uniformes, facilmente nos sentimos integrados ao visualizar uma dessas barraquinhas ambulantes que oferecem diversos tipos de serviços. O preço de início não agradou, mas provisória que era a situação e tendo em conta que a sede apertava, fomos levados pelo entusiasmo.

Começara pois então e como não estávamos lá para avaliar a quantidade gasosa presente no malte, percorremos o desfile em busca de faces familiares. Como quem tem boca vai a Carcavelos, íamos perguntando aos transeuntes por quem de facto procurávamos e em não mais que 10 minutos estava alcançado o veículo pertencente a “Engenharia Biomédica”. Tratamos imediatamente de aliviar alguma carga que não servia para mais que meros efeitos decorativos, em troca ofertaram-nos mais algum combustível, justo que chegue.

Mais à-vontade que estávamos, começamos a lavrar terreno no sentido de angariarmos a simpatia entre os conterrâneos ou outros simples forasteiros como nós. Música, um elo que une nações um pouco por todo o mundo, diferente não o era naquele recinto e vai daí após dois ou três passinhos de dança, surgiriam algumas interacções com a população local. Curiosas donas de casa abordar-me-iam com a questão da origem de muy nobre traje ao que eu amavelmente retorquiria naturalidade aveirense, vertente ambientalista, posto isto, confrontado sou com a inocência das amáveis e ingénuas criaturas pois inquiriram-me se iria retratar o meio detrítico bracarense. Imbuído de natural boa disposição gargalhei por breves momentos e esclareci, como de resto também o posso fazer neste momento, que não, o curso de facto não tem por objectivo primórdio arremessar os que o concluem para a SUMA, mas antes para serviços prestados em laboratórios ou secretárias.

De encontros e desencontros se fazem bons e maus momentos, e se por um lado estava num local totalmente desconhecido, nem por isso deixei de travar conhecimentos com rapaziada da terra do ovo mole. Entre chalaças e graçolas, o resultado naturalmente convergiu para que me perdesse dos meus companheiros. Ajuntando a isto o facto de não ter forma de os contactar, poder-se-ia eventualmente dizer que estaria em maus lençóis. Estaria mas não estive, felizmente que o orgulho tem aspectos positivos, e a prova disso mesmo eram as jaquetas exibidas que transmitiam em dourado as palavras mágicas referentes ao curso da amostra de engenheiro que eu procurava.

5/7 Minutos, o tempo necessário não só para o encontrar, como também para arranjar boleia até ao antro da perdição. Confortavelmente instalados em “puffs” e rodeados de esferovite, fazíamo-nos acompanhar por todo um rol de personagens, uns mais afáveis e risonhos, outros menos pedrados e/ou alcoolizados, etc.… De destacar a presença de Cristo, que não só teve a graciosidade de dispensar um cumprimento, como também de simultaneamente, num gesto demonstrativo de enorme proeza, enrolar substâncias ilícitas em plena auto-route.

Acampamos, discutiu-se brevemente o que haveria para ruminar pois de bandulho fragilizado tornar-se-ia mais complicado saborear os deleites nocturnos com que seríamos confrontados. Comida de plástico, como alguém um dia apelidara, alguém que certamente por padecer de colesterol elevado era obrigado a renunciar a um prazer e decidiu baptizar depreciativamente o agregado composto essencialmente por massas, molhos e todo um rol de ingredientes salutares ao paladar.

Do jantar não se fez apenas o prato principal, as entradas, compostas por caseiros enchidos em brasa assados e embebidos por álcool no seu mais puro estado, fizeram as serventias dos convidados que mais não lá estavam que para manter o equilíbrio ébrio aguardando ansiosamente a ida para o lúgubre local onde decorriam as cerimónias em devoção do padecido animal.

Refastelados e refeitos do efeito provocado pela larica, retomava-se a compostura e íamos finalmente dar de caras com o verdadeiro festim. Um luar tentava penetrar na nebulosidade que de resto assombrara também toda a tarde. Desbravando pelo desconhecido território íamos percorrendo a escuridão em direcção a nenhures, até que a agitação desvendou um amplo e lamacento baldio.

Barraquinhas, barracões, luz, música, cheiro intenso ao álcool, elementos que pareciam anunciar que era improvável que estivéssemos noutro local se não no que realmente pretendíamos. Pensei por momentos “e se não passar de um comício comunista?”, cedo dissipei todas as dúvidas pois apesar de pairar um odor, não identificado mas semelhante ao incenso, não se verificava aquela ligeira camada nebulosa, característica em eventos de cariz politicamente canhoto.

Decorriam várias actividades quando demos entrada no recinto, de salientar naturalmente Marante, líder nato dos Diapasão, que actuava no palco refugiado por detrás dos locais de consumo. Pouco ligamos, havia um assunto bem mais importante a tratar – o natural reconhecimento do terreno. O espaço era aberto, porém pouco vasto e em não mais que três minutos, se completavam voltas ao mesmo. Cansado e em angústia, causa directa da secura sentida, abancar era a palavra de ordem para retratar as chagas que se iam aprofundando.

Do outro lado eram dadas indicações, novo artista subiria ao palco. Juntamo-nos à restante comunidade e somos deleitados com a presença de 5 belos exemplares femininos que aparentemente, acompanhando belas coreografias, também cantavam. Triste o momento em que abandonaram o palco, uma solidão irrompe-se-me pela alma, o que conduziu a nova procura de companhia.

Quem tem amigos não falece em estabelecimentos prisionais, daí apelando ao meu lado social fui em busca dos mesmos. Emerso numa imensa multidão, naveguei por entre correntes até dar por mim em rodas tentando avistar algo. Não foi necessário, o alvo fui eu. Como que de assalto, trajado a rigor o individuo envolve-me num abraço heterossexual, perfumado por laços de amizade antigos. Socializamos com os demais presentes no limitado e próximo perímetro que traçamos.

Entre tudo isto passaram-se um bom punhado de horas, julgo que entretanto as ameaças tempestivas concretizaram-se por momentos, confesso que a escassa luminosidade que se sentia me trai neste apontamento, facto é que de novo o sol arrebitaria por entre as colinas e dava lugar a um novo e limpo dia. Toda aquela zona se revelava claramente pela primeira vez, e qual não é o meu espanto quando dou por mim junto aos meus companheiros de viagens curtas, mas urgentes. Sempre iguais, os Toy-toy mantinham uma discreta mas firme postura junto da periferia do recinto.

Tempo de despedida, de retorno, os moliceiros aguardavam-nos por entre os sinuosos canais algures entre a apanha do berbigão ou uma simples viagem turística. Partimos, não sem antes deixar marcas, recordações, ou outras futilidades que mais não serviam para mais tarde relembrar momentos, ocasiões. Demos início à marcha, longo seria o caminho a percorrer.

Um autêntico deserto, seria a mais perfeita descrição do que nos rodeava, não se sentia a presença de qualquer alma humana, apenas nós perseguidos pelos raios solares e um extenso rectilíneo curso pela frente. Seguimos, andamos, continuamos a seguir e a andar sem chegar a qualquer lado. Poderia ser uma metáfora mas era somente a realidade, onde quer que parássemos e a quem quer que perguntássemos a resposta era inevitavelmente sempre a mesma. Desanimados mas convictos, não desistimos de prosseguir no encalço da “besta de ferro”.

Demorou, muito ou se calhar nem tanto, mas haviam regressado as dores, as feridas e o cansaço ressentiam-se e estavam decididos a não facilitar o traçado que restava. Quais peregrinos que mantinham o esforço apesar do sacrifício, devotamente iamos em busca dum santuário que nos conferisse o repouso merecido.

Atempadamente se avista o salvador. O metálico monstro perecia adormecido aguardando a exactidão horária que o levaria a despertar e a galgar os mais que revisitados trilhos. Houve que antes comprar o ingresso, houve que antes esperar por um dos que connosco partira, houve que antes respirar fundo e tomar consciência de que o destino seria outro, tudo aquilo ficaria para trás, para, quem sabe, um dia mais tarde regressar.

Com mais ou menos dificuldade nos instalamos, com mais ou menos dificuldade transitamos de transporte, com mais ou menos dificuldade demos por nós de novo em terra e em direcção a casa.

De acções que não passam de simples memórias, perdurarão pelo menos, por estas e por outras páginas que virão, mais um relato, uma narração, uma história. Até que ponto será tudo isto verdade? Ninguém sabe, ninguém saberá, não é suposto ninguém saber. O que resta é deixarmo-nos levar pelo fantástico inerente a todas elas. Mais virão e, assim o espero, melhores.